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VAMOS CHAMAR O VENTO
FERNANDO ROCHA CANTA CAYMMI

1. Morena do Mar 2:45
2. O vento 3:16
3. Promessa de pescador 3:17
4. A vizinha do lado 2:45 participação de Danilo Caymmi
5. Festa de rua 3:04
6. Cala boca menino 3:41 participação do grupo Tono
7. O que é que a baiana tem 2:50 participação de Silvia Machete
8. Oração de Mãe Menininha 3:57 participação de Felipe e Rafael Rocha
9. Preta do Acarajé 2:18 participação de Paloma Lima
10. Milagre 3:09
11. Sábado em Copacabana 4:05
12. Marina 3:27
13. A jangada voltou só 3:48
14. O mar / Cantiga da noiva / Velório 5:06 participação de Ana Claudia Lomelino
15. Saudade de Itapoã 2:48
16. O bem do mar 2:26
17. Acalanto / Canção da Primeira netinha 4:03

“Vamos Chamar o Vento” — e reencontrar Caymmi


A bossa nova circulava pelo mundo há pelo menos 25 anos quando entrevistamos, na série Especial da Rádio JB, o maestro e arranjador Lindolfo Gaya, responsável durante anos pelo excelente catálogo da gravadora Odeon. Antes do segundo uísque, surgiu a pergunta: “A seu ver, quem introduziu a modernidade na MPB?” Gaya não hesitou: “Dorival Caymmi”. E explicou as razões aos ouvintes. Para quem perdeu o programa, aqui está este quinto disco de Fernando Rocha — o psicanalista que faz da música a sua “segunda asa”. Bem servido pelos arranjos de Alain Pierre, seus músicos e cantores, e com a visita de Danilo Caymmi, Fernando Rocha incorpora a poesia, as harmonias modernas, a sensualidade de mestre Dorival, ao mesmo tempo que, como intérprete, prova sua maturidade artística.

Luiz Carlos Saroldi

 

Meu amigo Fernando Rocha transita pacificamente entre o psicanalista e o cantor popular. Pacificamente? Confesso que ao ouvir este delicioso “Vamos chamar o vento F. R. canta Caymmi”, um disco tão profissional que presumível de cantor de profissão única (a de cantor), pensei cá comigo: “agora o Fernando vai precisar mesmo de um colega psicanalista melhor ainda que ele para ajudá-lo a lidar com o dualismo desconcertante, porque o pacificamente vai ficar cada vez mais distante”. Digo isso – e temo pelo duplo exercício profissional – por que este disco é dos melhores que ouvi e exige atenções mais veementes que as solicitadas apenas a um amador. Que Fernando sempre foi um cantor – pleno e realizado – eu sempre soube, a partir dos dois espetáculos que criei, dirigi e apresentei para o grupo “Cantores do Chuveiro”, onde ele brilhava ao lado de outros ótimos cantores que se dizem amadores, apenas porque continuam a exercer profissões paralelas bem sucedidas. E sempre soube disso também por seus CDs anteriores, dedicados a Cartola, à música francesa ou à música nordestina.
A beleza deste CD – abrigando a música de Caymmi, compositor universal e de minha predileção a partir de sempre – é indiscutível e potencialmente perigosa para os pacientes do Doutor Fernando, que bem podem ficar a ver navios, sem médico para lhes tornar mais livres as cucas... Porque “Vamos chamar o vento” vai exigir do titular mais shows, mais apresentações, mais atenções ao ato sacralizado, quase canônico, do cantor profissional.
Não vou nem me deter aqui nas canções do meu amado Dorival – todas obras-primas indiscutíveis, a não ser a não menos adorável embora menos conhecida Canção da Primeira Netinha – até para evitar o lugar comum dos elogios desnecessários. Chamo, porém, a atenção que a beleza deste precioso CD mora na contenção e na elegância da simplicidade – parâmetros ideais da própria música caymmiana – tanto dos arranjos de Alain Pierre quanto da atmosfera “cool” de todo o disco, em cuja linha de frente está precisamente a voz de Fernando Rocha, suave como o vento, doce como o balançar dos coqueiros, firme como o mar de Caymmi.
Além – é claro – das participações especiais, a começar pelo canto de Danilo Caymmi, este herdeiro em gênero, número e grau de nenhuma degenerescência. E a se concluir pela participação criativa dos filhos Felipe e Rafael e pelas vozes de Silvia Machete, Paloma Lima, Marina Lutfi, Ana Cláudia Lomelino, Muri Costa, e dos netinhos Martim & Mia. A par dos músicos, todos de primeira linha.
Em resumo: Fernando Rocha fez um CD definitivo. Que causará inevitável prazer – quando não surpresa por se tratar ainda de cantor, insisto, que se diz amador – a qualquer ouvinte que possa gostar da melhor MPB.


Ricardo Cravo Albin

Tive o prazer de conhecer Fernando Rocha através de um amigo em comum, o baixista Dôdo Ferreira. Nessa época, Fernando tinha um sonho que acabou se tornando realidade: gravar um CD todo com músicas francesas. Além do seu respeitável repertório de MPB, Fernando tem também um vasto conhecimento de música francesa, fruto dos anos em que morou na França. “Um brasileiro à Paris” foi um projeto ousado em que tive a sorte de ser convidado para participar como diretor musical e arranjador. Foi um trabalho muito prazeroso que me proporcionou um reencontro com minhas raízes francesas e o início de uma grande amizade.
Desta vez, Fernando me procurou com a boa idéia de gravar um CD só com músicas de Dorival Caymmi. É claro que adorei o convite. Começamos, então, as gravações com um time de excelentes músicos. Tivemos a participação especialíssima de Danilo Caymmi que gentilmente nos emprestou seu talento vocal e sua suingada flauta em sol. Contamos ainda com Muri Costa, meu velho amigo da Barca do Sol, hoje no Arranco de Varsóvia, o violão preferido do Dorival Caymmi, como ele mesmo disse ao trabalhar com Muri durante os últimos anos de sua vida. Outras participações enriqueceram ainda mais esse trabalho, tais como o piano de Paulo Malaguti, também do Arranco, a voz de Silvia Machete, a voz e a percussão de Rafael Rocha e a banda Tono, e Felipe Rocha, do Brasov, na voz e no fluegel.
Ao mergulhar no universo de Caymmi, constatamos, de cara, como ele faz parte da nossa vida sem que a gente se dê realmente conta disso. Com frequência, me vinha a mesma frase em pensamento: Puxa! Isso também é do Caymmi? Mas é verdade, Dorival Caymmi é tão estrutural na música brasileira quanto Noel Rosa. Só que diferentemente do urbano Noel, seu cotidiano é a beira da praia.
Já que boa parte de suas canções falam do mar e da vida simples e dura dos pescadores, usamos muita percussão, rabeca, viola caipira, pífanos e sanfona para construir arranjos que trouxessem esse clima praieiro. Mas há também outros climas, mais distantes da areia, como “Sábado em Copacabana” e “Cala a boca, menino”.
Então chega de papo e vam’bora navegar pelas ondas sonoras de Caymmi, “vamos chamar o vento”.

Alain Pierre

FICHA TÉCNICA

produção musical e escolha de repertório Fernando Rocha
arranjos e direção musical Alain Pierre
produção executiva Miguel Bacellar – Darma Produções
projeto gráfico Marina Lutfi / cacumbu design
fotos Mario Grisolli
Gravado, mixado e masterizado no Estúdio Navegantes
no período de junho de 2009 a julho de 2010

Agradecimentos:

 

Alain Pierre, Alexandre Caldi, Ana Claudia Lomelino, Arlete Soares Bem Gil, Bruno di Lullo, Claudine Van Der Valde, Danilo Caymmi, Dôdo Ferreira, Felipe Rocha, Fernando Maciel de Moura, Gisela Camargo, Jeremias Ferraz, Leandro Floresta, Luiz Carlos Saroldi, Luiz Felipe Oiticica, Marcelo Caldi, Marco Molleta, Marina Lutfi, Maritza Garcia, Martim & Mia, Miguel Bacellar, Muri Costa, Norma Nogueira, Oswaldo Barbosa, Paloma de Lima, Paulo Malaguti, Pedro Amorim, Rafael Rocha, Ricardo Cravo Albin, Rogério Luz, Ruth Rocha, Silvia Machete

Todas as músicas são de autoria de Dorival Caymmi, exceto “Sábado em Copacabana”, com letra de Carlos Guinle e música de Dorival Caymmi.

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