Dois anos depois de Palavra Nordestina, Fernando Rocha e Nonato Luiz estão de volta, agora no espaço elegante de uma das casas mais consistentes da noite carioca. Cercados de aplausos calorosos, Fernando e Nonato reafirmam uma colaboração artística enriquecedora para ambos – e sobretudo para aqueles que admiram a vitalidade da música brasileira. O marco dessa união é o CD O Sol Nascerá, lançado em 96, espécie de salvo conduto que em boa hora reconduziu o psicanalista Fernando Rocha aos caminhos da música, sob as bênçãos de Cartola. A passagem sem traumas contou na época com a assistência de Nonato Luiz, feito agora lembrado pela versão ao vivo de Cordas de Aço. Além de homenagear virtuoses de trânsito internacional como Baden Powell e Vinícius, Fernando e Nonato abrem a gaiola para o belo vôo de Azulão, de Jayme 0valle e Manuel Bandeira, e ainda nos brindam com trabalhos próprios, bem assessorados pela sanfona de Kiko Horta e a percussão de Rafael Rocha e os demais. Mas o cantor e seu diretor musical nos surpreendem com o resgate de peças raras como a dedicatória de Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa) a Recife, e a comovente Dúvida, valsa escrita em 1946 por Luiz Gonzaga e Domingos Ramos. Esses desempenhos tornam memorável esta noite em que o chapéu de couro aguarda no camarim do Mistura Fina o duelo final de Corisco com Antônio das Mortes. Afinal, não deve ser por acaso que o novo recado de dois brasileiros obstinados e talentoso coincide com a comemoração dos 100 anos de os Sertões, obra fundadora deste país.

Luiz Carlos Saroldi
Rio de Janeiro, setembro de 2002.